Sunday, November 15, 2009

Gravidez na adolescência no Brasil cai, mas ainda preocupa


Dr. Ricardo Cristiano Leal da Rocha*

Segundo dados divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde, o número de partos realizados na rede pública em gestantes de 10 a 19 anos caiu 7,9% entre 2007 e 2008. As maiores quedas aconteceram, sobretudo, nas regiões Sudeste, seguida pelo Sul e Centro-Oeste. Há regiões que não apresentaram queda. O Amapá até registrou aumento de 39,2% nos casos.
Como se vê, são muitas as particularidades de cada uma das regiões brasileiras. Porém, a partir de semelhanças com outros países, podemos confirmar que a incidência de gravidez na adolescência é mais frequente entre as populações mais pobres e com baixa escolaridade. Para ter uma ideia, o Japão possui incidência de 2% a 3%, enquanto que a Nigéria alcança índices de 53% entre suas populações jovens.

O desnível sócio-econômico cultural, o nível de pobreza geral, as inúmeras condições de vulnerabilidade e os elevados índices de prostituição infanto-juvenil, além da atividade sexual exercida cada vez mais precocemente, são alguns dos principais motivos para estes índices.

No entanto, diferentemente do passado, hoje, na maioria das vezes, a primeira gestação na adolescência não acontece por desinformação sobre os métodos anticoncepcionais. Vários estudos brasileiros e pesquisas de opinião pública comprovam que as adolescentes conhecem os métodos, contudo, não fazem uso dos mesmos.
Mais do que oferecer informação, precisamos de mais projetos de integração na área do adolescente, como já existem de forma isolada como aqueles promovidos pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, mobilizando estas jovens de forma educativa e cultural, abrindo espaço para diálogo e discussões, gerando reflexões, conhecimento, mudanças de atitude em relação à atividade sexual segura e responsável.
Ações como estas são importantes e podem refletir, inclusive, na redução das taxas da segunda gravidez na adolescência. E ainda no desvio por repetição, que são os filhos de adolescentes que têm maior possibilidade de se tornar pais e mães também na adolescência. Isso porque, de 50% a 70% das mães adolescentes são filhas de pais e mães adolescentes.

A prevenção da gestação na adolescência é também medida importante para redução das altas taxas de mortalidade materna. Na população geral, a mortalidade materna é a oitava causa de óbito entre mulheres. Contudo, na adolescência, é a sexta causa de morte. Isso significa que adolescentes têm 2,5 vezes mais chances de evolução para óbito em decorrência de complicações diretas da gestação, parto e puerpério, principalmente aquelas na faixa etária de 15 a 19 anos, quando comparadas a mulheres de outras faixas etárias.

* Dr. Ricardo Cristiano Leal da Rocha é presidente da Comissão de Ginecologia e Obstetrícia Infanto-Puberal da FEBRASGO

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