Marcos Gonzalez*
Com 155,1 mil automóveis emplacados em setembro deste ano, resultado 10,2% inferior a agosto, as montadoras encaram a dura realidade de mais um ano atípico: não é mais a pandemia que trava os negócios, mas suas nefastas consequências que colapsou a logística global de fluxo de autopeças e, como consequência indesejável, forçou uma elevação extraordinária nos preços dos insumos e nos custos logísticos, nunca antes observada.
Fábricas em todo o mundo estão trabalhando bem abaixo da capacidade. No Brasil não é diferente, mas o problema aqui pode ser ainda mais prolongado. Esse é um fato inédito na história econômica do mundo: a demanda existe e está aquecida, contudo faltam insumos, primeiro porque a logística global, especialmente marítima, está muito abaixo do regular e segundo porque a Internet das Coisas (IOT) exige que produtos sejam equipados com mais chips que, até pouco tempo, eram utilizados basicamente pelas indústrias de computadores, celulares e games.
Considerando esse cenário, a Anfavea projeta que o crescimento deste ano frente ao ano passado será de apenas 6%. As montadoras esperavam produzir uma média mensal perto de 200 mil unidades, mas em setembro com muito esforço conseguiram chegar a 173 mil quando junho, julho e agosto não passaram nem sequer a 170 mil unidades. Para se ter uma clara ideia de como a produção está muito abaixo do desejável basta lembrar que, no ano passado, de agosto até dezembro, a média foi aproximadamente de 220 mil unidades produzidas por mês e a média mensal de 2019 foi de 270 mil veículos produzidos.
A Anfavea prevê que o último trimestre deste ano a produção média será de 160 mil unidades. O vilão dessa história é bem conhecido: faltam semicondutores o que implica na redução da produção de outros componentes de alta tecnologia vitais para maioria dos automóveis.
Junta-se a essa infeliz “tempestade perfeita” a falta generalizada de containers, navios abarrotados e praticando fretes abusivos e aviões que não dão conta de tanta demanda por “entregas urgentes”. A infraestrutura logística, devido às restrições em função da pandemia, entrou em pane. Falta, fundamentalmente, mão-de-obra. E a volta a alguma normalidade só será verificada a partir do segundo trimestre do próximo ano.
Porém, 2022 tem um ingrediente apimentado e indigesto particularmente para os brasileiros: será ano de eleição presidencial, período que, historicamente, como sabemos, gera arroubos políticos que estão se tornando cada vez mais radicais. A consequência imediata são incertezas que acabam, muitas vezes, protelando ou, ainda pior, paralisando investimentos.
Portanto no Brasil, mais do que em qualquer outro lugar do planeta, toda cadeia automotiva precisará prestar muita atenção na gestão de seus custos e se valer cada vez mais de inteligência estratégica para minimizar os efeitos nocivos dos tributos que, muitas vezes, nem precisariam ser pagos no decorrer de toda a cadeia produtiva.
*Marcos Gonzalez é o diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex. Formado em Engenharia, com pós-graduação em Administração e MBA em Gestão Fiscal e Tributária, o executivo acumula mais de 35 anos de experiência profissional em empresas do setor automotivo. Gonzalez tem sólida carreira desenvolvida em empresas multinacionais com forte experiência na prospecção e desenvolvimento de novos negócios e habilidade multicultural adquirida no desenvolvimento de atividades comerciais junto a clientes no exterior.
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