Wednesday, December 30, 2009

Despreparo natalino


Edmur Hashitani*

Se você está aqui porque me conhece, já sabe que eu sou ateu e que não levo o Natal a sério. Costumo usar a história de que o papa Libério criou a data e que Jesus de Nazaré sequer nasceu em dezembro quando alguém insiste muito. Se você não me conhece, agora já leu e já sabe. Mas, não estou aqui para discutir as minhas posições religiosas.

Além do mais, apesar de minha descrença, não sou burro. Sei que o Natal é uma data especial para as crianças. É a festa mais esperada pela maioria, o ano todo, ganhando de aniversário, Páscoa, dia das crianças, etc.
Pois bem. Estou eu aqui, conversando com uma amiga, que me fala que o portal Uol está anunciando “chat com o Papai Noel”. Achei que seria uma boa oportunidade para dar risada, ler umas besteiras, e entrei no raio do chat e comecei a ler as perguntas e respostas. Posso dizer que dar risada não era a reação apropriada.

Quando você coloca na internet, às 16h da véspera de Natal, um anúncio de chat com Papai Noel, com desenhinho do velhinho e tal, o que se espera? Que os pais coloquem as crianças pra conversar com ele. E o que os pais esperam? Alguém pra conversar com as crianças, alimentar o tal “espírito natalino” e aquelas coisas. Nada de puritanismo, mas, são crianças, que acreditam na história. Ainda que a maioria fosse de desocupados, como eu, pra isso há os moderadores.

Mas não foi com isso que eu me deparei. As perguntas mais simples eram respondidas de forma descabida. Vou colocar alguns exemplos abaixo, com português corrigido (até do tal Noel) onde P é pergunta e R, Resposta:

P: Papai Noel, você demora mais ou menos quanto tempo em cada país para entregar os presentes?
R: Uma coisa que eu posso garantir é que a quantidade de pessoas boas tem diminuído nos últimos anos... é menos trabalho pra mim e mais trabalho pro Mundo!

Era exatamente isso que uma criança queria ouvir. Que o mundo está uma porcaria e que nem o Papai Noel está muito a fim de colaborar.

P: Papai Noel, quantos duendes trabalham na sua oficina?
R: O negócio é a terceiração (imagino que o idiota quisesse dizer terceirização). Eu só tenho um duende agora que gerencia todos. O nome dele é Law King Chong.

Ah, claro, o pobre coitado que fez a pergunta sabe quem é o dono do comércio na região da R. 25 de Março.

P: Quantos anos você tem?
R: 1433 anos! Mas com um corpinho de 90. Tipo aqueles vampiros do Crepúsculo. Hmmm... será que isso quer dizer que eu sou um vampiro? Só posso dizer que minha roupa não era vermelha no começo... Ho-ho-ho!

Lindo. A pergunta foi feita por alguém cujo apelido tinha o nome de duas meninas. Dependendo da idade, não fazem ideia de o que é Crepúsculo. E agora vão achar que o pai delas, ou quem quer que seja, fantasiado de Noel é, na verdade, um vampiro. Muito instrutivo.

P: Por que você não cria o bolsa-presente?
R: acho que você está me confundindo com outro homem de barba... a Dilma.

Quem fez a pergunta pode ter incentivado a piada. Mas as crianças da sala vão entender? Por que a moderadora não vetou esta pergunta?

P: Papai Noel, nunca pensou em ter sua própria família?
R: Acho que não tenho saco para tanto.

Chega, né? Até tem mais, mas essa foi a gota d’água. Que o imbecil que foi colocado pra responder fingindo que é o Papai Noel não acredite na instituição da família, tudo bem, problema dele. Eu também não lá tanta vontade de casar e ter filhos. Agora, eu não saio por aí falando pras crianças que manter uma família é uma droga e que é preciso ter saco.

O que muito me espanta e desaponta é um site com o Uol, um dos principais e mais visitados portais deste país, fazer uma papagaiada destas. Colocar alguém sem o menor preparo para lidar com crianças. Se o intuito era fazer graça, que botassem um aviso antes de entrar, não colocar um desenho bonitinho e infantil, que atrai justamente as crianças.

E que não me venham os comentários de “você é mal humorado”, “não entende a piada” e coisas do tipo. O anúncio era evidentemente para CRIANÇAS. E quando se faz alguma coisa para elas, esperamos que fosse feito para que elas brinquem com aquilo. Não que elas sejam o objeto da brincadeira.

Espero que repensem para as próximas oportunidades. Que não façam. Ou que façam com responsabilidade. Já tem muito idiota por aí usando a internet como forma de agressão infantil. Não era preciso sujeitá-las a mais um babaca, mas desta vez fingindo se vestir de vermelho e usar barba, patrocinado por alguém com poder de mídia.

Se quiser ler o absurdo por completo, já disponibilizaram em http://tc.batepapo.uol.com.br/convidados/arquivo/quadhumor/ult1757u136.jhtm

* Edmur Hashitani é jornalista e editor do blog Onbudsman do Mundo (http://www.ombudsmandomundo.blogger.com.br/), onde foi publicado originalmente o texto acima.

Fumo passivo de cigarro: Perigo ao nosso lado


Walter Cordoni Filho*

Tendência mundial, a limitação ou proibição do ato de fumar em locais públicos é, antes de tudo, um ato de proteção à vida.

Foi-se o tempo em que os políticos e administradores públicos viam como importante a arrecadação de impostos decorrentes da venda de cigarros, charutos e sua matéria-prima, o fumo.

Hoje, estudos indicam que a sociedade paga muito mais caro pelas conseqüências dos males do fumo do que qualquer receita tributária gerada pelo setor.

Doenças respiratórias de baixa, média e alta complexidade, como bronquites e pneumonia, câncer, internações, despesas médicas, despesas hospitalares e os desdobramentos sociais de todas as etapas da evolução clínica de milhares de pacientes – e suas famílias – geram custos inimagináveis tanto para o fumante, quanto para a família e para toda a sociedade.

O tabagista ativo, ou seja, o indivíduo que fuma, é o grupo de maior risco de morte evitável.

O tabagista passivo - que é o indivíduo não fumante que convive com fumantes em ambientes fechados – integra o terceiro grupo de maior risco de morte evitável, logo atrás do alcoolismo.

Assim, é importante salientar que fumantes têm uma responsabilidade maior. Além dos riscos para si, a atitude gera desdobramentos severos junto aos familiares, colegas de trabalho e demais pessoas de sua convivência diária.

As ações que verificamos, notadamente no Estado de São Paulo, com restrição ao ato de fumar em ambientes fechados, além de reduzir a exposição de não fumantes, incentiva o debate de um tema crucial para a saúde pública: o homem público precisa tomar atitudes visando a segurança e a qualidade de vida de toda a população.

Parte do processo de conscientização pode ser creditado ao poder público e, nesta situação, o governo do Estado de São Paulo, nos últimos anos, vem tomando as medidas necessárias, elogiáveis.

Agora, muito precisa ser feito pelo próprio fumante, como ato de desprendimento e inteligência: reduzir ao mínimo o consumo de cigarros, quando não eliminar sua prática. E nunca, jamais, fumar em ambientes fechados: o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima em mais de 2.500 as mortes de brasileiros causadas apenas pelo fumo passivo.

* Walter Cordoni Filho, é médico pediatra, especialista em saúde púbica, Gestão hospitalar, Medicina do Trabalho e Medicina Ambiental - www.doutorwaltercordoni.com.br

Saturday, December 19, 2009

Medicina regulamentada, uma vitória do cidadão


Jorge Carlos Machado Curi*

Há cerca de um mês, a Câmara dos Deputados deu um presente a todos os cidadãos brasileiros. Votou favoravelmente ao projeto de lei 7703/2006, que regulamenta o exercício da medicina no Brasil. Dessa forma, empreende-se um passo fundamental para a normaltização legal dos atos exclusivos dos médicos e daqueles que podem ser compartilhados por outros profissionais de saúde. Em linhas gerais, com a aprovação dos senhores parlamentares, garante-se transparência à multidisciplinaridade e harmoniza-se o trabalho em equipe, além de oferecer mais segurança aos pacientes.

Foi uma batalha longa e árdua por parte dos médicos brasileiros, de entidades de pacientes, de parte dos gestores, e até de profissionais de outras áreas de saúde que comungam do sentimento de que o Brasil não pode mais viver no atraso. Passaram-se nada menos do que 7 anos, desde que o projeto começou a tramitar no Senado Federal. Mas valeu a persistência e a obstinação de tantos e tantos pares que colocam em primeiro plano o bem-estar da sociedade.

De fato, uma profissão de milênios, como a medicina, não pode continuar à margem da legalidade, impingindo riscos desnecessários a médicos e pacientes. A prática médica devidamente regulamentada é um avanço para o Sistema Único de Saúde (SUS), e principalmente para aqueles que não dispõem de recursos para pagar uma assistência particular ou plano de saúde.

Garante, assim, que o paciente mais carente terá direito a ser diagnosticado e tratado por um profissional de medicina devidamente capacitado. Isso é: teremos só uma medicina e de qualidade.

A despeito de algumas manifestações contrárias ao Projeto de Lei 7703, a verdade é que ele é extremamente positivo para todas as áreas de saúde. A começar pelo fato de estabelecer, com todas as letras, a liberdade necessária ao trabalho multiprofissional. Diz seu artigo 4º do parágrafo 7º “são resguardadas as competências das profissões de assistente social, biólogo, biomédico, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, profissional de educação física, psicólogo, terapeuta ocupacional e técnico e tecnólogo de radiologia”.

Não exigimos o comando dos serviços de saúde, que pode ser exercido por profissionais de todas profissões, mas exigimos o comando dos serviços médicos, assim como as outras profissões exigem os seus e com razão.

Os médicos conhecem seu papel e sua importância, assim como sabem o valor inestimável dos demais agentes de saúde. Não queremos, não podemos nem devemos nos sobrepor a ninguém. Exigimos segurança para o exercício da medicina, para um atendimento de qualidade aos pacientes e almejamos total harmonia com os demais trabalhadores da saúde. Aliás, devemos juntos, neste momento, lutar por financiamento, gestão e tratativas de RH melhores para todos os profissionais.

Relevante nessa história é acima de tudo a segurança dos brasileiros. Com a aprovação do Projeto de Lei 7703, a situação muda para melhor: onde houver necessidade de atendimento médico, o estado será obrigado a contratar e disponibilizar um profissional com formação técnica, científica e ética em medicina. Justíssimo que pobres e ricos tenham acesso à qualidade.

Enfim, foi uma primeira vitória. Agora, falta o PL ser referendado pelo Senado Federal novamente, e depois sancionado pela Presidência da República. Essa é uma luta comum a todos nós, nesse momento.

* Jorge Carlos Machado Curi, presidente da Associação Paulista de Medicina

Wednesday, December 09, 2009

PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO ANUNCIA VENCEDORES DE 2009


Imprensa Prêmio Esso de Jornalismo

Os jornalistas Fabiana Moraes e Schneider Carpeggiani, do JORNAL DO COMMERCIO, do Recife, com o trabalho OS SERTÕES, elaborado em razão da passagem dos 100 anos da morte do escritor Euclides da Cunha, conquistaram o Prêmio Esso de Jornalismo 2009. Após percorrer 4.713 quilômetros de estradas, desde a Bahia até o Ceará, os repórteres revelaram aos leitores um novo sertão, nos locais descritos por Euclides, onde convivem vaqueiros e pirateadores, beatos e travestis, cantadoras de incelências e traficantes, padres e b-boys.

Todos os vencedores foram conhecidos, na noite do dia 8 de dezembro, em cerimônia destinada a homenagear os finalistas do Prêmio Esso, realizada no Hotel Copacabana Palace. Foram conferidas 15 premiações, 12 das quais destinadas a contemplar trabalhos da mídia impressa, além do Prêmio Esso de Telejornalismo e da distinção de dois trabalhos de "Melhor Contribuição à Imprensa em 2009".

Prêmio Esso de Telejornalismo

Os jornalistas Mônica Puga, Junior Alves, Alex Oliveira, Aline Grupillo e Eliane Pinheiro, com o trabalho CONFRONTO NA LINHA VERMELHA, transmitido pelo SBT, exibiram o exato momento em que policiais e traficantes das favelas que margeiam a Linha Vermelha trocavam tiros em meio ao desespero dos motoristas pegos no fogo cruzado. Tudo ocorreu minutos antes do presidente Lula e sua comitiva trafegar pela via expressa.

Prêmio Esso de Reportagem

O Prêmio Esso de Reportagem coube aos jornalistas Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, autores do trabalho DOS ATOS SECRETOS, AOS SECRETOS ATOS DE JOSÉ SARNEY. Publicada no jornal O ESTADO DE S. PAULO, a série de reportagens revelou que o Senado Federal editara mais de 300 atos secretos para nomear altos funcionários, parentes e amigos de senadores, criar cargos e privilégios, além de aumentar salários. As sucessivas revelações, que sofreram censura judicial, acabaram conduzindo o ex-presidente da República e presidente do Senado, José Sarney, para o centro das denúncias.

Prêmio Esso de Fotografia

O Prêmio Esso de Fotografia foi atribuído ao repórter fotográfico Arnaldo Carvalho, que após percorrer nove estados do Nordeste, ilustrou com suas fotos o trabalho EXILADOS NA FOME, publicado no JORNAL DO COMMERCIO (Recife). Numa das fotos mais marcantes, ele captou o sofrimento de uma menina de pouco mais de um ano de idade que ficara cega por inanição.

Todos os vencedores tiveram seus trabalhos escolhidos de uma lista de 38 finalistas previamente selecionados de um total de 1.212 trabalhos inscritos, sendo 520 reportagens, séries de reportagens ou artigos; 164 trabalhos fotográficos; 209 trabalhos de criação gráfica em jornal, 69 trabalhos de criação gráfica em revista e 125 primeiras páginas de jornal, além de 121 trabalhos de telejornalismo e 04 inscrições ao Prêmio de Melhor Contribuição à Imprensa.

A Comissão de Premiação do Prêmio Esso de Jornalismo 2009, que julgou os trabalhos de mídia impressa (à exceção da fotografia), foi composta pelos jornalistas Humberto Werneck, Luiz Henrique Fruet, Percival de Souza, Roberto Muggiati e Silvio Ferraz, e esteve reunida na manhã do dia 8 de dezembro deste ano, no Rio de Janeiro.
PREMIAÇÃO

É a seguinte a relação completa dos vencedores do Prêmio Esso de Jornalismo 2009 - 54 anos:

PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO 2009
Diploma e R$ 30.000,00
Fabiana Moraes e Schneider Carpeggiani, com o trabalho OS SERTÕES, publicado no JORNAL DO COMMERCIO (Recife).

PRÊMIO ESSO DE TELEJORNALISMO
Diploma e R$ 20.000,00
Mônica Puga, Júnior Alves, Alex Oliveira, Aline Grupillo e Eliane Pineheiro, com o trabalho "CONFRONTO NA LINHA VERMELHA", exibido o SBT.

PRÊMIO ESSO DE REPORTAGEM
Diploma e R$ 10.000,00
Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, com o trabalho DOS ATOS SECRETOS AOS SECRETOS ATOS DE JOSÉ SARNEY, publicado no jornal O ESTADO DE S. PAULO.

PRÊMIO ESSO DE FOTOGRAFIA
Diploma e R$ 10.000,00
Arnaldo Carvalho, com o trabalho "EXILADOS NA FOME", publicado no JORNAL DO COMMERCIO (Recife).

PRÊMIO ESSO DE INFORMAÇÃO ECONÔMICA
Diploma e R$ 5.000,00
Vicente Nunes, Ricardo Allan, Vânia Cristino, Karla Mendes, Letícia Nobre, Luciano Pires, Luciana Navarro, Mariana Flores e Edna Simão, com o trabalho O BRASIL QUE EMERGIRÁ DA CRISE, publicado no jornal CORREIO BRAZILIENSE.

PRÊMIO ESSO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E ECOLÓGICA
Diploma e R$ 5.000,00
Marcelo Leite, Toni Pires, Claudio Ângelo, Marília Scalzo, Marcelo Pliger, Thea Severino, Adriana Caccese de Matos, Renata Steffen e Flávio Dieguez, com o trabalho NO CORAÇÃO DA ANTÁRTIDA, publicado no jornal FOLHA DE S. PAULO.

PRÊMIO ESSO ESPECIAL DE PRIMEIRA PÁGINA
Diploma e R$ 5.000,00
André Hippertt, Karla Prado e Alexandre Freeland, com o trabalho A FAIXA PRETA HOJE É DE LUTO, publicado no jornal O DIA.

PRÊMIO ESSO DE CRIAÇÃO GRÁFICA - CATEGORIA JORNAL
Diploma e R$ 5.000,00
Bruno Falcone e Yana Parente, com o trabalho OS SERTÕES, publicado no JORNAL DO COMMERCIO (Recife).

PRÊMIO ESSO DE CRIAÇÃO GRÁFICA - CATEGORIA REVISTA
Diploma e R$ 5.000,00
Marcos Marques, Alexandre Lucas, Marco Vergotti, Eduardo Cometti, Alberto Cairo e Equipe Faz Caber, com o trabalho VOO AIR FRANCE 447, publicado na revista ÉPOCA.

PRÊMIO ESSO ESPECIAL INTERIOR
Diploma e R$ 5.000,00
Suzana Fonseca e Tatiana Lopes, com o trabalho CASO ALESSANDRA, publicado no jornal A TRIBUNA (Santos).

PRÊMIO ESSO REGIONAL 1
Diploma e R$ 3.000,00
Silvia Bessa, com o trabalho QUILOMBOLA - OS DIREITOS NEGADOS DE UM POVO, publicado no jornal DIÁRIO DE PERNAMBUCO (Recife).

PRÊMIO ESSO REGIONAL 2
Diploma e R$ 3.000,00
Edgar Gonçalvez Junior e Equipe, com o trabalho NOVEMBRO DE 2008 - O MAIOR DESASTRE CLIMÁTICO DO BRASIL, publicado no JORNAL DE SANTA CATARINA (Blumenau).

PRÊMIO ESSO REGIONAL 3
Diploma e R$ 3.000,00
Paulo Motta, Angelina Nunes, Carla Rocha, Selma Schmidt, Vera Araújo e Fábio Vasconcellos, com o trabalho DEMOCRACIA NAS FAVELAS, publicado no jornal O GLOBO.

A Comissão de Premiação decidiu também endossar a declaração emitida pela Comissão de Seleção de repúdio, protesto e preocupação com a censura judicial imposta ao jornal "O Estado de S. Paulo".

MELHOR CONTRIBUIÇÃO À IMPRENSA EM 2009

Os diplomas de Melhor Contribuição à Imprensa couberam aos sites "Museu Corrupção" e "Congresso em Foco".

O "Museu da Corrupção" ou MuCo, na abreviação adotada por seus idealizadores, é uma iniciativa do Diário do Comércio, de São Paulo, que decidiram agrupar num site os casos mais importantes de corrupção noticiados pela imprensa desde 1964 até os dias de hoje. Segundo seus autores, pode traduzir-se como "um esforço para produzir um jornalismo participante e formativo, não apenas noticioso e espectador".

Desde fevereiro de 2004, quando foi criado, o site Congresso em Foco acumula inúmeras citações em outros veículos, inclusive estrangeiros, em razão de um paciente trabalho de investigação jornalística que lhe permitiu trazer à luz aspectos desconhecidos do Congresso Nacional e da realidade política brasileira. O site ganhou especial notoriedade em 2009 por revelar ao país o descontrole no uso de passagens aéreas por parlamentares, com centenas de voos ofertados a parentes e amigos, ou simplesmente comercializados num mercado paralelo ilegal.

Nada menos de 88 jornalistas pertencentes a dezenas de veículos, além de profissionais ligados à comunicação, estiveram envolvidos este ano durante três meses nas tarefas de julgamento do Prêmio Esso 2009.

O Prêmio Esso de Jornalismo destinou este ano aos vencedores um total de R$ 109 mil, já deduzidos os impostos. Além do prêmio principal, que leva o nome do programa, fixado em R$ 30 mil, e do Prêmio de Telejornalismo, estabelecido em R$ 20 mil, foram distribuídos R$ 3 mil para cada um dos três prêmios regionais, R$ 10 mil para as categorias de Reportagem e Fotografia e R$ 5 mil para cada uma das categorias de Criação Gráfica-Jornal, Criação Gráfica-Revista, Informação Econômica, Informação Científica/ Tecnológica/ Ecológica, Prêmio Esso Interior e Prêmio Esso de Primeira Página.

Sunday, December 06, 2009

Policiamento delirante da medicina


Antonio Carlos Lopes*

No Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) procura controlar a prescrição de medicamentos que agem no Sistema Nervoso Central. São três tipos de receituários adotados por força da portaria 344, de 1998, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. Há o receituário branco carbonado, para medicamentos sem risco de criar dependência, o de notificação B (talonário azul), para as drogas que podem induzir à dependência, e o de notificação A (amarelo) para prescrição de fármacos com alto risco de dependência.

Como boa parte do arcabouço legal do país, são normativas que servem especialmente para burocratizar o trabalho do médico. Neste caso em particular, foram instituídas sem ao menos uma consulta aos especialistas e às suas entidades. O resultado é que a portaria, sem efeito de lei, tornou-se inócua. Não serve para fiscalizar nada, só dá dores de cabeça aos médicos e pacientes, ensejando um policiamento delirante da prática médica.

A Anvisa se dedica à advertir os profissionais sobre a exigência do nome e endereço do paciente no receituário branco carbonado, conforme obriga a portaria. Mas como é possível garantir que as informações fornecidas pelo paciente são de fato corretas? Agora o médico é obrigado a solicitar comprovante de residência para medicar o doente? Punir um médico por detalhe insignificante é desvio e abuso de responsabilidade. É burocratizar a assistência para tornar o acesso à saúde ainda mais caótico no Brasil.

Faz alguns anos, houve uma pesquisa junto a psiquiatras sobre a aceitação e credibilidade na eficácia das atuais normas de prescrição para psicofármacos. A conclusão é de que existe larga descrença sobre a eficácia das normativas que versam sobre controle, distribuição e comercialização de medicamentos. Os especialistas não vêem qualquer embasamento técnico na regulamentação e a consideram restritiva e burocráticas. Esse sentimento, aliás, também é comum em outras especialidades.

Houvesse ou não pesquisa, é fato que leis como essa denotam clara incompetência e total desconhecimento da prática médica. Está mais do que na hora das autoridades constituídas investirem tempo e dinheiro no que realmente importa, que é oferecer atendimento equitativo, de qualidade e dentro dos princípios do humanismo na prática profissional.

Em vez de fazer papel de polícia sobre os médicos, as autoridades deveriam fiscalizar com mais rigor as unidades de atendimento onde, em muitos casos, falta higiene, os pacientes são atendidos nos corredores e os médicos não têm condições de exercer dignamente a profissão. Com essa mentalidade, a Saúde no Brasil não conseguirá avançar e superar patamares. Tudo porque, para alguns iluminados, o que realmente importa são detalhes, como fiscalizar se a receita tem ou não endereço do paciente.

* Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

As distribuidoras e o blecaute


Hélio Viana Pereira*

Milhões de brasileiros em maior ou menor grau foram surpreendidos por um blecaute de grandes proporções na noite do dia 10 de novembro, evento que se estendeu em alguns casos até o fim da madrugada do dia seguinte. Descoberto o problema de transmissão e com a plena operação de Itaipu, o restabelecimento ocorreu inicialmente de forma gradual e, dentro de algumas horas, de maneira integral. Simultaneamente a esse episódio maior, as distribuidoras, responsáveis pelo abastecimento do mercado, intensificaram suas providências para a regularização de seus clientes. Um exército de profissionais, na sua maioria engenheiros, técnicos e eletricistas, aos poucos, foi assumindo seu posto com um único objetivo: regularizar o sistema elétrico brasileiro. A partir dos centros de operações, manobras em linhas alternativas contribuíram para amenizar o desligamento nas áreas atingidas e outras fontes supridoras compensaram a perda momentânea da maior usina brasileira. As distribuidoras de energia elétrica tiveram um papel fundamental na reorganização do sistema e no retorno do serviço a milhões de residências, indústrias e comércio.

O país deu um sobressalto. De imediato, os serviços de atendimento telefônico aos clientes começaram a registrar picos de chamadas e o centro de referência para os consumidores passou a ser o serviço das distribuidoras. Em algumas empresas o volume de atendimentos telefônicos ultrapassou em mais de quinze vezes o registro de um dia típico. Entre o final da noite e a metade da madrugada as distribuidoras do grupo CPFL Energia receberam quase 12 mil chamadas contra 800 em condições normais. Evidentemente os eletricistas tiveram sobrecarga de trabalho. Atuando na operação de manobras, no seccionamento de redes elétricas, no atendimento das ordens de serviço, esses profissionais foram também importantes atores no esforço de evitar a propagação do blecaute para áreas maiores ainda.

Equipes de sobreaviso foram chamadas, e reforçadas com profissionais de empresas terceirizadas. Os centros de operação descentralizados ficaram de prontidão e permanentemente trabalhando sincronizados com as orientações do Operador Nacional do Sistema elétrica (ONS). Normalizado o sistema elétrico com o retorno da operação de Itaipu, as distribuidoras envolvidas no blecaute intensificaram seus trabalhos. Aos primeiros sinais de recuperação das regiões atingidas, a preocupação voltou-se para a normalização das redes de distribuição primárias e secundárias, responsáveis pelo atendimento ao consumidor final.

Manobras na rede elétrica, a partir dos centros de operação, contribuíram para normalizar áreas mais críticas, para que 100% da população que acabou sofrendo algum tipo de problema pudesse ver resolvido sua situação. Simultaneamente a essas providências técnicas, a Imprensa teve um papel de fundamental importância ao informar e muitas vezes esclarecer os fatos e tranquilizar a população.


Pelo lado das empresas, seus centros atendimento, não só coletivos, mas os personalizados passaram a contatar prefeituras, grandes clientes, sociedade civil, e principalmente a Imprensa para esclarecer o problema, garantindo a volta à normalidade.

Muitos clientes relataram queima de aparelhos elétricos em suas residências. Atenta a isso, as distribuidoras orientaram a população sobre a legislação vigente em relação a esse ressarcimento, divulgando pela imprensa os procedimentos para a solicitação desse serviço

Uma coisa fica evidente no caos provocado num blecaute. durante e principalmente depois do episódio. São as distribuidoras de eletricidade o principal ponto de apoio da sociedade. Cuidando para que a situação volte ao normal o mais rapidamente possível. Os investimentos das distribuidoras para expansão e manutenção de seus sistemas elétricos são bilionários. No caso da CPFL Energia esse montante atinge exatamente R$ 1 bilhão para 2010. Essa resposta É disso que estamos falando aqui. Do esforço de pessoas comprometidas com o país e de empresas direcionadas para cumprir seu relevante papel social, mesmo nas situações mais complexas possíveis.

* Hélio Viana Pereira, Vice-Presidente de Distribuição da CPFL Energia

Wednesday, December 02, 2009

Na hora da mutação: fora aos espectadores?


Por Sandrine Lage*

“A procura crescente por automóveis elétricos implica o recurso a centrais de carvão e a gás, como apoio às centrais nucleares, como fonte de energia”, declarou recentemente uma jornalista francesa. Por que não considerar a alimentação das baterias através de energia solar disponível nos pontos de carregamento das baterias? Ou a construção ou adaptação de garagens das habitações?

“O carro elétrico, uma falsa boa idéia? Se parece uma das melhores soluções para reduzir as emissões de CO2 no mundo, as conclusões de um relatório destacam que a produção e utilização deste tipo de veículo não está isenta de conseqüências sobre o consumo de energia”. Assim se inicia um artigo datado de Novembro, de uma jornalista francesa (que assina como S.O). Mais uma oportunidade perdida para a mídia, que poderia ser a primeira a remar contra a maré de soluções fáceis, na direção de uma mutação radical. E outra semente de influência poderosa desperdiçada por insistir na comunicação de soluções que não abandonam o mindset que nos arrastou para este cruzamento.

Considerando estimativas relativas à substituição total do parque automóvel por veículos elétricos, os fatos apontam para um aumento de consumo de eletricidade na União Européia, na ordem dos quinze por cento. O estudo da Eurelectric (Associação dos Produtores de Eletricidade da União Européia) realizou-se em 2009. Até aqui, tudo bem. Se bem que poucas dúvidas haja sobre o valor acrescentado de questionar especialistas sobre a viabilidade de uma planificação de um impacte neutro a nível de emissões de CO2 para a utilização de carros elétricos. E sobre as vantagens: ausência de ruído na cidade, possibilidade de abrir janelas e respirar ar puro, dando uma folga ao ar condicionado e à degradação dos monumentos e da nossa saúde... Se pretendemos fazer parte da “transformação” ou “mutação” anunciada, cabe, antes de mais, à perspectiva da mídia conter as sementes de outra mentalidade ...

mídia: mesma fórmula = mesmo resultado

“Pode ser por muito pouco tempo, mas as chaves do futuro ainda nos pertencem,” declarou, recentemente, o escritor e jornalista francês Nicolas Hulot, aquando do lançamento do filme da sua autoria (em parceria com Jean-Albert Lièvre): “O síndrome do Titanic”. É certo que as transformações do planeta e a atividade humana não abrandam. Paralelamente, permanece filtrada a mensagem para convencer que “a mutação é incontornável e que temos tudo a ganhar se dirigirmos a orquestra em vez de nos submetermos à mesma”, como explica Nicolas Hulot.


Como desejar que milhões de leitores, espectadores se “convertam”, passando a agir no sentido de “consumir sem consumir o mundo no qual vivemos” (Akatu) – assim como os Governos – quando a mídia insiste na promoção da “velha mentalidade” (mesmo que inconscientemente)?

Não seria tão grave caso o papel da mídia não fosse, em todas as suas formas, oferecer informações corretas e consolidadas sobre o que é a nova economia. E não fosse “importante informar e fundamental oferecer o conhecimento necessário para a transformação”, como sublinha Dal Marcondes, jornalista e editor da Envolverde (revista digital sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável).

De espectadores a atores

Atravessar o nevoeiro e por termo ao ruído da mensagem, que Nicolas Hulot designa tão brilhantemente como “excesso tóxico” -e que retrata no seu filme-, passa, inevitavelmente, por nos tornarmos atores: “abandonar “o culto do ‘sempre mais’, da ‘obsessão pela quantidade’, da ‘criação de necessidades que não existem’, da ‘ideologia da possessão para existir’ e ‘do capitalismo como modelo econômico dominante’”. É uma oportunidade para a humanidade se reencontrar, “devolvendo sentido ao progresso”, refere o homem que carrega nos ombros um combate, há mais de duas décadas. A comunicação, face aos ângulos mortos do público em geral, do Governo Francês, da mídia, tem sido a sua “espada”, numa luta incansável de promoção para nos entregarmos a este momento de mutação.

“Yes, we can”

Como? Veja-se o recente caso da visita de Obama à China: “não restam dúvidas de que o elevado endividamento dos EUA e a poupança excessiva da China contribuíram de forma decisiva para que se criassem as condições para a presente crise internacional”, como declara o jornalista português Sérgio Aníbal (consulta a 17.11.2009 - 15h35, do site do jornal Público). Nem mesmo o otimismo e a eleição do mais recente Presidente dos Estados Unidos – que contribuiu com um sinal inequivocamente positivo de confiança- poderia ser apontada como solução isolada. Todos nós, especialmente no mundo ocidental, temos sido cúmplices ao adotar o “american lifestyle”.

Eis a deixa da mídia e dos atores: o quarto poder poderia ser aliado onde são encontradas lacunas por parte dos Governos e quando os interesses econômicos falam mais alto: ao apontar alternativas sustentáveis aos consumidores: para quem tem opção, parar (ou diminuir) o consumo de produtos produzidos na China, enquanto as condições de trabalho, de segurança e de qualidade não se assemelharem às da União Européia, sobretudo quando se trata de marcas de prestígio (ainda é mais grave).

Procura-se reequilíbrio na economia mundial do pós-crise


Informar incansavelmente que grande parte do desemprego na Europa se deve à deslocalização de empresas e à importação de produtos com custos extremamente reduzidos, devido ao baixo preço de mão-de-obra na China (que frequentemente enfrentam condições de trabalho miseráveis) e pela generalização de desrespeito por normas impostas noutros países (nomeadamente, a nível de prejuízo para a saúde do utilizador);

informar que, nalguns casos, a perda de identidade está em causa: no Santuário de Fátima, em Portugal, por exemplo, todos as Santas são made in China. O cenário repete-se em qualquer grande cidade (Nova Iorque, por exemplo) onde decidamos adquirir um souvenir; informar que ao adquirir produtos locais (não necessariamente do país de origem, mas próximo), o impacte ambiental é menor e gerará mais emprego se for nacional;

informar que basta abdicar de comer carne durante alguns dias por semana (e, idealmente, prolongar esse período), para ganhar em saúde e reduzir em impacte ambiental. A mesma fórmula aplica-se aos pacotes de cereais (que utilizam, à semelhança da carne, toneladas de água na sua produção) e a espécies em vias de extinção, como o atum e o bacalhau.

Trata-se, agora, de “ganhar consciência de que chegamos ao fim de um sistema e que devemos encontrar um que o substitua -baseado na partilha, em detrimento da competição”, como não se cansa de repetir Nicolas Hulot.

A mídia tem um enorme poder, assim como os consumidores. Resta informá-los de que basta "começarem a fazer o que é necessário, depois o que é possível para, de repente, fazerem o impossível." Até São Francisco de Assis o sabia no século XIII. Não será já tempo de voltar às origens e da mídia recuperar o seu papel de vanguarda?

* Sobre Sandrine Lage Jornalista franco-portuguesa, com formação em comunicação e RSE

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