Wednesday, December 30, 2009

Despreparo natalino


Edmur Hashitani*

Se você está aqui porque me conhece, já sabe que eu sou ateu e que não levo o Natal a sério. Costumo usar a história de que o papa Libério criou a data e que Jesus de Nazaré sequer nasceu em dezembro quando alguém insiste muito. Se você não me conhece, agora já leu e já sabe. Mas, não estou aqui para discutir as minhas posições religiosas.

Além do mais, apesar de minha descrença, não sou burro. Sei que o Natal é uma data especial para as crianças. É a festa mais esperada pela maioria, o ano todo, ganhando de aniversário, Páscoa, dia das crianças, etc.
Pois bem. Estou eu aqui, conversando com uma amiga, que me fala que o portal Uol está anunciando “chat com o Papai Noel”. Achei que seria uma boa oportunidade para dar risada, ler umas besteiras, e entrei no raio do chat e comecei a ler as perguntas e respostas. Posso dizer que dar risada não era a reação apropriada.

Quando você coloca na internet, às 16h da véspera de Natal, um anúncio de chat com Papai Noel, com desenhinho do velhinho e tal, o que se espera? Que os pais coloquem as crianças pra conversar com ele. E o que os pais esperam? Alguém pra conversar com as crianças, alimentar o tal “espírito natalino” e aquelas coisas. Nada de puritanismo, mas, são crianças, que acreditam na história. Ainda que a maioria fosse de desocupados, como eu, pra isso há os moderadores.

Mas não foi com isso que eu me deparei. As perguntas mais simples eram respondidas de forma descabida. Vou colocar alguns exemplos abaixo, com português corrigido (até do tal Noel) onde P é pergunta e R, Resposta:

P: Papai Noel, você demora mais ou menos quanto tempo em cada país para entregar os presentes?
R: Uma coisa que eu posso garantir é que a quantidade de pessoas boas tem diminuído nos últimos anos... é menos trabalho pra mim e mais trabalho pro Mundo!

Era exatamente isso que uma criança queria ouvir. Que o mundo está uma porcaria e que nem o Papai Noel está muito a fim de colaborar.

P: Papai Noel, quantos duendes trabalham na sua oficina?
R: O negócio é a terceiração (imagino que o idiota quisesse dizer terceirização). Eu só tenho um duende agora que gerencia todos. O nome dele é Law King Chong.

Ah, claro, o pobre coitado que fez a pergunta sabe quem é o dono do comércio na região da R. 25 de Março.

P: Quantos anos você tem?
R: 1433 anos! Mas com um corpinho de 90. Tipo aqueles vampiros do Crepúsculo. Hmmm... será que isso quer dizer que eu sou um vampiro? Só posso dizer que minha roupa não era vermelha no começo... Ho-ho-ho!

Lindo. A pergunta foi feita por alguém cujo apelido tinha o nome de duas meninas. Dependendo da idade, não fazem ideia de o que é Crepúsculo. E agora vão achar que o pai delas, ou quem quer que seja, fantasiado de Noel é, na verdade, um vampiro. Muito instrutivo.

P: Por que você não cria o bolsa-presente?
R: acho que você está me confundindo com outro homem de barba... a Dilma.

Quem fez a pergunta pode ter incentivado a piada. Mas as crianças da sala vão entender? Por que a moderadora não vetou esta pergunta?

P: Papai Noel, nunca pensou em ter sua própria família?
R: Acho que não tenho saco para tanto.

Chega, né? Até tem mais, mas essa foi a gota d’água. Que o imbecil que foi colocado pra responder fingindo que é o Papai Noel não acredite na instituição da família, tudo bem, problema dele. Eu também não lá tanta vontade de casar e ter filhos. Agora, eu não saio por aí falando pras crianças que manter uma família é uma droga e que é preciso ter saco.

O que muito me espanta e desaponta é um site com o Uol, um dos principais e mais visitados portais deste país, fazer uma papagaiada destas. Colocar alguém sem o menor preparo para lidar com crianças. Se o intuito era fazer graça, que botassem um aviso antes de entrar, não colocar um desenho bonitinho e infantil, que atrai justamente as crianças.

E que não me venham os comentários de “você é mal humorado”, “não entende a piada” e coisas do tipo. O anúncio era evidentemente para CRIANÇAS. E quando se faz alguma coisa para elas, esperamos que fosse feito para que elas brinquem com aquilo. Não que elas sejam o objeto da brincadeira.

Espero que repensem para as próximas oportunidades. Que não façam. Ou que façam com responsabilidade. Já tem muito idiota por aí usando a internet como forma de agressão infantil. Não era preciso sujeitá-las a mais um babaca, mas desta vez fingindo se vestir de vermelho e usar barba, patrocinado por alguém com poder de mídia.

Se quiser ler o absurdo por completo, já disponibilizaram em http://tc.batepapo.uol.com.br/convidados/arquivo/quadhumor/ult1757u136.jhtm

* Edmur Hashitani é jornalista e editor do blog Onbudsman do Mundo (http://www.ombudsmandomundo.blogger.com.br/), onde foi publicado originalmente o texto acima.

2 comments:

Unknown said...

Olá, parabêns pelo texto!

Anonymous said...

A razão mais básica através apesar disso está aquecendo o tornar público a partir da ra vermelho-quente , a sujeira , a ocasião também pode servir frentes atmosféricas e muito mais.

Jornal BLEH!

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