Wednesday, June 24, 2009

7a. FLIP consolida a Festa Literária de Paraty no calendário mundial

Programação principal reúne 34 autores de nove nacionalidades e faz homenagem a Manuel Bandeira

Imprensa FLIP

O que mais chamou a atenção do público quando a FLIP surgiu, em 2003, foi a convivência de autores excepcionais, a maior parte deles pela primeira vez no Brasil, numa atmosfera de descontração e proximidade com o público, em meio à beleza de Paraty. Às vésperas de sua sétima edição, o evento confirma essa identidade: entre os dias 1 e 5 de julho de 2009, estarão em Paraty 35 autores, reunidos em 18 mesas que vão abordar de poesia a ciência, do jornalismo literário à crítica musical, da literatura portuguesa à história, do conto e dos quadrinhos à arte contemporânea. Como de costume, a FLIP receberá autores de destaque em suas áreas, em encontros que valorizam o intercâmbio de experiências distintas.

Para o diretor de programação da FLIP, Flávio Moura, a programação deste ano é a confirmação de que o festival se firmou como um dos principais eventos do gênero no calendário mundial. Segundo ele, “a FLIP 2009, a exemplo das edições anteriores, traz autores de qualidade inquestionável em seus campos de atividade e consolida seu posto ao lado dos melhores festivais literários do mundo”.

O escritor português António Lobo Antunes é um dos destaques da ficção na FLIP deste ano. Vencedor do Prêmio Camões em 2007, é considerado um dos maiores prosadores lusitanos depois de Eça de Queirós. Autor de clássicos como As naus, Os cus de Judas e Meu nome é legião (seu livro mais recente publicado aqui), o autor não vem ao Brasil desde 1983 e já deixou claro que sua verve polemista não passará em branco durante a estada em Paraty.

O jornalista americano Gay Talese, que na FLIP conversa com o jornalista brasileiro Mario Sergio Conti, é um dos criadores do chamado jornalismo literário. Talese vem ao Brasil pela primeira vez, depois de quarenta anos de carreira, ao longo dos quais escreveu clássicos do jornalismo mundial como o perfil “Frank Sinatra está resfriado”, do livro Fama e anonimato. Não é pequena a expectativa em torno de sua presença, como já deixaram claros os depoimentos, resenhas, entrevistas e reportagens a seu respeito publicados recentemente na imprensa brasileira.

O biólogo inglês Richard Dawkins, seguidor de Charles Darwin e autor de Deus, um delírio, é um dos principais evolucionistas em atividade no mundo. Em 2009, quando se comemoram o segundo centenário de nascimento de Darwin e os 150 anos da publicação de A origem das espécies, Dawkins está entre os intelectuais mais solicitados do mundo para participar de debates e conferências. Que tenha aceitado o convite da FLIP num momento tão atribulado é indício claro da importância adquirida pela Festa Literária.

O historiador britânico Simon Schama conversa com a antropóloga brasileira Lilia Moritz Schwarcz sobre o papel dos Estados Unidos no momento em que o país vê ameaçada sua condição de potência econômica mundial e ainda no calor da eleição recente de Barack Obama, tema que ele aborda em seu novo livro e que fará parte da conversa de que participa em Paraty. Não é menos esperada a participação do crítico musical americano Alex Ross, encarregado da cobertura sobre esse assunto na New Yorker. Ele falará sobre O resto é ruído, livro que foi um acontecimento na crítica cultural recente nos Estados Unidos ao mostrar as conexões da música erudita com a história do século XX.

A irlandesa Anne Enright, ganhadora do Booker Prize de 2007, discute com James Salter na mesa Segredos de Família. A irlandesa Edna O’Brien tem um estatuto parecido com o de Wolff no Brasil: autora que figura entre os nomes de maior destaque em seu país de origem, ainda não teve aqui a atenção que merece. Sua mesa na Flip pretende alterar esse panorama. E a partir de um tema quente: ela teve exemplares de seu romance de estreia, Country Girls, queimados pela comunidade religiosa local na década de 1960, devido à crueza com que descrevia a vida sexual de suas personagens. Edna O’Brien fala dos sentidos da transgressão na atualidade ao lado da francesa Catherine Millet, autora do autobiográfico e não menos escandaloso A vida sexual de Catherine M.

Dois outros autores compõem a representação francesa da FLIP 2009: a artista conceitual Sophie Calle e o escritor Grégoire Bouillier. Unidos por laços pessoais e artísticos – não se sabe, na obra de cada um, onde termina a vida e começa a representação –, ambos protagonizam uma das mesas mais comentadas e inusitadas da FLIP. Engrossa a delegação francesa o afegão Atiq Rahimi, ganhador do prêmio Goncourt de 2008 com o livro Syngué sabour – Pedra de paciência. Radicado na França desde que fugiu da guerra civil de seu país, na década de 1980, Rahimi estará na mesa ao lado de Bernardo Carvalho, um dos autores de maior densidade em atividade no Brasil e com quem partilha o gosto pelas viagens e pelo experimentalismo.

A literatura chinesa estreia na FLIP com o escritor Ma Jian e a jornalista Xinran, ambos radicados na Inglaterra, cujos livros fazem retratos críticos de uma China pouco condizente com a imagem de liderança global a que o país aspira. No momento em que se completam vinte anos do massacre da Praça da Paz Celestial, tema do livro de Ma Jian, a mesa tem o objetivo de contribuir para uma reavaliação do autoritarismo na China.

A 7a. FLIP é também mais flexível com a possibilidade de trazer autores que já estiveram no festival. Quando se trata de alguns dos maiores nomes da literatura brasileira, qual o sentido de não repetir? Daí a presença de Chico Buarque, que volta à FLIP para falar de Leite derramado, romance recém-lançado. Ele participa de mesa com o romancista Milton Hatoum, autor dos premiados Dois irmãos e Cinzas do Norte, que também volta à FLIP depois de memorável participação em 2003. Diga-se o mesmo de Cristovão Tezza: quando ele esteve na Festa Literária em 2005, ainda não era o autor de O filho eterno, livro que transformou sua carreira. Tezza divide mesa com o mexicano Mario Bellatin, um dos mais controvertidos autores latino-americanos da atualidade, com quem discute o papel da autobiografia na ficção.

A FLIP segue com a tradição de promover encontros pouco esperados. É o caso da reunião entre o escritor carioca radicado em São Paulo Rodrigo Lacerda e o dramaturgo e cineasta Domingos de Oliveira, nome fundamental também para o teatro brasileiro, que fez dos conflitos amorosos objeto por excelência de suas peças e filmes. Também pouco usual é o encontro entre Tatiana Salem Levy, Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues, que discutem a combinação entre ficção e relato autobiográfico, empregada nos livros de que são autores, respectivamente A chave de casa, Os irmãos Karamabloch e Elza, a garota.

Depois da vinda de Angeli em 2003 e de Neil Gaiman no ano passado, a FLIP dedica outra mesa aos quadrinhos brasileiros e apresenta nomes de destaque da produção atual: os vencedores do Prêmio Eisner Rafael Grampá, Fábio Moon e Gabriel Bá, e o quadrinista e artista plástico Rafael Coutinho, todos eles muito próximos também da literatura.

Além da Conferência de Abertura, que será proferida pelo crítico Davi Arrigucci Jr., Manuel Bandeira é assunto de duas outras mesas. Representantes de destaque da nova poesia brasileira, Heitor Ferraz, Eucanaã Ferraz e Angélica Freitas discutem a atualidade da obra do poeta pernambucano. O professor e pesquisador Edson Nery da Fonseca e o jornalista Zuenir Ventura compartilham suas memórias e impressões do escritor modernista, que foi amigo de Fonseca e professor de literatura de Zuenir.

Como assinala a presidente da FLIP, Liz Calder, “uma das principais motivações da Festa Literária de Paraty é a valorização da literatura brasileira. Este ano a FLIP faz isso homenageando um poeta muito querido, Manuel Bandeira”. Para o diretor de programação, Flávio Moura, “Bandeira é uma das melhores pontes, na literatura brasileira, entre a tradição e o modernismo, e sua obra variada, na prosa, nas crônicas e na poesia, ainda pede muitas releituras”. A Oficina Literária deste ano é uma extensão da homenagem a Bandeira e tem como tema a poesia. Ela será ministrada pelo poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, professor da PUC do Rio de Janeiro.
Como nos anos anteriores, a programação principal ocorre na Tenda dos Autores e será transmitida ao vivo na Tenda do Telão. Outros eventos acontecem simultaneamente, em diversos locais. Há uma programação exclusiva para as crianças e jovens leitores, a Flipinha, ponto de encontro do Programa Educativo desenvolvido ao longo do ano inteiro junto às escolas públicas e privadas de Paraty. Além disso, este ano a FLIP etc. passa a se chamar FLIP Casa da Cultura e traz uma programação extensa, que contará com exposições, shows, peças de teatro e eventos em torno do homenageado da FLIP e do Ano da França no Brasil.

No domingo de manhã, a FLIP terá um evento especial: a mesa Zé Kleber – “Como a cultura desenha a cidade”, que vai reunir Jorge Melguizo Pousada, secretário de Desenvolvimento Social de Medellin (Colômbia), Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, de São Paulo, e o Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil. O tema da discussão serão políticas urbanas bem-sucedidas, com destaque para as ações educacionais, como a formação de bibliotecas, iniciativas culturais e de inclusão social. A mediação será da antropóloga Paula Miraglia.

A FLIP é uma realização da Associação Casa Azul, presidida por Mauro Munhoz. A Casa Azul desenvolve trabalhos de revitalização em Paraty e mantém um programa educativo continuado na região, com o objetivo de transformar a cidade histórica fluminense em modelo de turismo cultural e em uma cidade de leitores.

Outras informações sobre a FLIP 2009, a Flipinha, a FLIP Casa da Cultura e outras atividades que ocorrem durante a Festa Literária podem ser consultadas nos sites www.flip.org.br e www.flipinha.org.br.

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