Tuesday, October 07, 2025

A força dos reencontros e dos apoios no caminho para Aparecida




Primeiro dia de caminhada pela Via Dutra reforça a importância do planejamento, do apoio e do espírito coletivo entre os romeiros


O Sol ainda nem havia surgido quando dei os primeiros passos rumo a Aparecida. Era o início do meu terceiro ano de caminhada pela Via Dutra, saindo de Guarulhos, próximo ao Internacional Shopping. A cidade ainda despertava, mas o propósito de seguir até o Santuário já ocupava cada pensamento. A rotina da caminhada, que mistura planejamento, resistência e fé, começava mais uma vez com a expectativa de dias intensos pela frente.

Neste ano, sigo acompanhado do Marcio. No primeiro ano, tive a companhia do Biro, e no segundo, os dois estiveram comigo. Agora, o grupo se dividiu. Eu e o Marcio seguimos juntos, enquanto o Biro optou por caminhar com outra turma, cerca de sete quilômetros atrás de nós. Mesmo separados, cruzar com outros grupos na estrada mostra o quanto essa jornada é coletiva, feita de encontros e reencontros.


O primeiro dia teve início por volta das cinco horas da manhã. A meta era chegar antes das 16h, completando cerca de 38 quilômetros. Conseguimos. O tempo foi resultado de preparo físico e de um apoio essencial: o do Pita, que de carro transportou nossas malas. Pode parecer um detalhe, mas caminhar dezenas de quilômetros sem o peso extra faz uma grande diferença. O apoio logístico é uma das peças centrais para que tudo transcorra bem.


Durante o caminho, tive uma surpresa especial: o reencontro com o Marcelo, um amigo de infância que participa da caminhada com o grupo da Vila Carolina, no Bairro do Limão, em São Paulo. Entre conversas rápidas e lembranças antigas, ele ainda indicou um ponto de apoio em Arujá. O local, organizado pelo “Comidas Caipiras Tio Rui”, oferecia refeições completas — espetos, farofa, saladas, vinagrete, bebidas e frutas — em uma estrutura localizada numa rua paralela à Via Dutra, próxima a um hotel da rede Ibis. A pausa para o almoço trouxe energia e também reforçou o espírito solidário que acompanha os peregrinos.


Entre as paradas programadas, a mais significativa foi a última do primeiro dia, na cidade de Santa Isabel. O Amigo Anézio disponibilizou toda a estrutura da sua chácara e, além de acertar nossa busca na Dutra e garantir o retorno ao ponto de partida no dia seguinte, ele preparou um jantar completo, reforçando a importância da hospitalidade nas rotas dos romeiros. Ter um espaço adequado para descanso depois de tantas horas caminhando é determinante para manter o ritmo e a disposição.

A hospedagem deste ano também marcou uma diferença em relação às anteriores. Depois de ter passado, no ano anterior, a noite em um quarto de motel compartilhado com quatro pessoas, encontrar um quarto exclusivo com cama de casal representou um verdadeiro conforto estratégico. Mais do que um luxo, o descanso é parte essencial da jornada. É nele que o corpo se recompõe e a mente se prepara para o trecho seguinte.

O primeiro dia se encerrou com a sensação de dever cumprido. A chegada a Santa Isabel marcou o início do descanso e da preparação para o segundo trecho, que seguirá até São José dos Campos. A expectativa é que o ritmo se mantenha, com as mesmas boas condições de percurso e o mesmo entusiasmo. Caminhar longas distâncias exige mais que resistência física: requer organização, foco e o apoio de pessoas que, mesmo sem nos conhecer, oferecem água, frutas, abrigo e palavras de incentivo.

Cada parada, cada conversa e cada gesto de acolhimento revelam o quanto o caminho até Aparecida é feito de fé e solidariedade. São inúmeros os pontos de apoio espalhados pela Dutra, mantidos por voluntários que transformam a estrada em um espaço de partilha e cuidado. Esses apoios são a base invisível da caminhada, os “anjos da estrada”, que tornam possível chegar ao destino final.

O primeiro dia terminou com a certeza de que, mais do que uma jornada individual, essa é uma travessia feita de histórias e conexões. O corpo sente o peso da distância, mas a mente se fortalece com cada passo dado. A estrada até Aparecida é longa, mas o significado de cada quilômetro percorrido faz dela uma experiência que se renova a cada ano.

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