Após um início desafiador, o apoio de voluntários e amigos manteve viva a fé na jornada para Aparecida
A madrugada ainda escura anunciava o segundo dia de caminhada rumo a Aparecida. O relógio marcava 5h quando eu e o amigo Márcio deixamos a chácara do Anézio, em Santa Isabel, onde havíamos descansado após o primeiro trecho da jornada. A hospitalidade dele foi essencial para que iniciássemos bem o novo dia. O que não esperávamos era a surpresa que a natureza nos reservaria: uma chuva fria, de média para forte intensidade, que durou pouco, mas suficiente para molhar roupas e tênis — algo que traria consequências horas depois.
O segundo dia da caminhada começou, portanto, sob condições diferentes das do anterior. A umidade e o frio nos acompanharam por vários quilômetros, exigindo um esforço maior para manter o ritmo. Mesmo assim, a motivação continuava alta, sustentada pela solidariedade de quem oferece apoio aos peregrinos. Esses gestos de cuidado se repetiram em diversos pontos do trajeto, reforçando a importância da presença humana nessa experiência de fé e resistência.
Entre os momentos mais esperados do dia estava a chegada ao ponto da Família Moretti, do Moto Clube Maluco Beleza, que participa da caminhada há anos. É um local estratégico, situado na Via Dutra sentido São Paulo, antes do encontro com a Rodovia Dom Pedro I. A recepção organizada por eles é conhecida entre os peregrinos pela generosidade: frutas, salgados, bebidas e até churrasco, além de um ambiente de acolhimento que renova as forças para seguir adiante.
Foi nesse ponto de apoio que vivi um dos instantes mais marcantes desta edição da caminhada. Enquanto recuperava o fôlego, vi um peregrino que seguia levando uma cruz de madeira. A imagem me emocionou. Percebi o contraste entre o peso simbólico que ele carregava e o esforço que eu fazia apenas para sustentar meu corpo cansado. Naquele momento, entendi que a fé é o que realmente alivia o peso da jornada, seja ela física ou espiritual.
Após essa parada, seguimos viagem com um ritmo um pouco mais lento. Senti um desconforto no quadril esquerdo que começou a refletir também no joelho. Meus passos tornaram-se mais curtos e o tempo total de percurso aumentou. A causa, descobriria mais tarde, estava nos tênis e meias molhados desde as primeiras horas do dia, que alteraram minha pisada ao longo de muitos quilômetros.
A caminhada seguiu com o apoio fundamental do Pita, responsável por toda a logística das malas, que as levou até o hotel Ibis Dutra. A tranquilidade de saber que tudo estaria preparado ao final do percurso fez diferença, principalmente diante do cansaço acumulado. No entanto, antes de chegar ao destino, uma nova parada mudou o tom do dia.
O ponto de apoio localizado nas proximidades de um shopping em São José dos Campos, o mesmo que já havíamos encontrado no ano anterior, mais uma vez surpreendeu. Ali, um grupo de voluntários — entre eles a Márcia e a Norina — demonstrava atenção em cada detalhe. Elas cuidavam dos peregrinos de forma exemplar, oferecendo alimentação, massagens e tratamento para os pés. Eu e o Márcio fomos atendidos com dedicação. Recebi meias secas, novas palmilhas e a explicação de que o desconforto que sentia vinha do calçado úmido e do impacto contínuo.
Mais do que a recuperação física, aquele momento representou uma pausa de humanidade. As mãos que cuidaram dos nossos pés e os gestos de quem compreende a dor do caminho reafirmaram o sentido da peregrinação. A caminhada até Aparecida é feita de fé, mas também de encontros e de apoios que transformam o esforço individual em uma experiência coletiva.
Encerramos o segundo dia com a sensação de missão cumprida. As dificuldades, a chuva e o frio deram lugar ao reconhecimento de que cada etapa tem um propósito. A jornada prosseguirá no terceiro dia, com corpo recuperado e mente fortalecida, impulsionada pelos gestos de quem acredita que caminhar é também um ato de partilha e gratidão.
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