Juros ainda em patamares proibitivos segue como fator de contenção de uma demanda interna que tem todo potencial para ganhar ainda mais musculatura
Marcos Gonzalez*
Os bons ventos voltaram a soprar para a indústria automotiva. O segundo semestre prometia, e vem cumprindo com louvor, dias bem melhores em termos de vendas, produção e, o que é mais animador, exportação. A redução do IPI deixa claro que, em termos de impostos sobre produto industrializado, menos sempre vai significar mais: vendendo-se mais automóveis, com o atrativo da redução nos preços, arrecada-se, naturalmente, mais tributos para os cofres públicos.
Juros ainda em patamares proibitivos segue como fator de contenção de uma demanda interna que tem todo potencial para ganhar ainda mais musculatura. Já a demanda externa, com muitos mercados livres de juros abusivos, vem trazendo alegrias para o pessoal de exportação das montadoras: foram 46,8 mil unidades exportadas em agosto deste ano, registrando expansão de 58,9% em comparação com o mesmo mês do ano passado (29,4 mil veículos “made in Brazil” enviados aos mercados da América do Sul, África e do Oriente Médio).
Com boas vendas tanto para fora como para dentro do Brasil, e um agosto, finalmente, sem registro de dias parados nas linhas de montagem, a indústria automotiva bateu novo recorde produção acumulada do ano e já supera em 4,7% a do mesmo período do ano passado.
Neste agosto as montadoras produziram 238 mil unidades, registrando alta de 8,7% sobre julho e de 43,9% sobre agosto de 2021. Pela primeira vez o volume acumulado do ano superou o do mesmo período do ano anterior: 1,549 milhão, contra 1.479 milhão, com crescimento de 4,7%. O segmento de ônibus, que amargou dificuldades em 2020 e 2021, vem sendo um dos destaques, com 20 mil unidades produzidas no ano, 50% a mais do que nos oito primeiros meses de 2021.
O balanço mensal divulgado pela Anfavea apresentou outros números animadores. As vendas em agosto totalizaram 208,6 mil unidades, melhor resultado dos últimos 19 meses. Foi a primeira vez no ano que esse indicador superou a barreira das 200 mil unidades. O indicativo mais importante foi a média diária de vendas que, em agosto, bateu 9,1 mil emplacamentos, também registrando a melhor marca do ano.
É clara a tendência de alta nas vendas de automóveis no Brasil e, com o câmbio favorável às exportações, as vendas externas, tanto de veículos como, também, de componentes, ganham destaque. Os bons ventos, contudo, exigem cautela e atenção especialmente com importação de componentes (obviamente em expansão), operação que exige inteligência e estratégia tributária para evitar, por exemplo, as perdulárias e indesejáveis cascatas de impostos que sempre impactam nos custos, aviltam a rentabilidade e, o que é pior, prejudicam a competitividade de toda cadeia automotiva.
*Marcos Gonzalez é o diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex. Formado em Engenharia, com pós-graduação em Administração e MBA em Gestão Fiscal e Tributária, o executivo acumula mais de 35 anos de experiência profissional em empresas do setor automotivo. Gonzalez tem sólida carreira desenvolvida em empresas multinacionais com forte experiência na prospecção e desenvolvimento de novos negócios e habilidade multicultural adquirida no desenvolvimento de atividades comerciais junto a clientes no exterior.
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